quinta-feira, 13 de agosto de 2009
REFLEXÃO SOBRE OS MEIOS DE PRODUÇÃO DE TEATRO
The Mechanized Toiler, de Krinski
Nuns dias passados encontrei em anotações de gaveta, dessas perdidas na memória, as primeiras anotações da montagem do Rato do Subsolo, datadas de 2004. Eram encontros com Iracema Macedo, poetisa e filósofa potiguar, com quem primeiro teci as agruras desse rato-maior chamado Fiodor. De lá prá cá foram muitas as suposições de montagem, diversos atores passaram pelo desejo, entre eles Walmir e Tarcísio, e a hipótese -aquela primeira figura difusa que temos quando optamos, opção lacônica, vamos montar uma peça! - foi se transformando, se reconfigurando, se destruindo, se construindo outras, o caos de sempre.
Olhar pra trás é pensar 'Ufa'! Olhar pra frente é pensar: 'Porra!' E como envelhecer é preciso, viver não, essa luta que é montar uma peça que nasce nas entranhas, ou no cu, como diria Sapiência, passa cada vez mais ser tarefa her(cú)lea e a gente vai se deixando consumir por preguiça, pela necessidade da grana, pela sobrevivência. Tenho uma impressão terrível que saio do processo menos criativo, como se um balcão de repartição pública estivesse me convocando 'vem! Vem! Aqui é mais fácil!' Ou um quadro negro, ou nariz de palhaço (com perdão dos bons palhaços).
Mas paro e penso que uma flecha lançada no ar não tem como objetivo o alvo, mas o arqueiro, ele mesmo, reencontrado, transformado em outro. É uma espécie de suicídio, um devir terrível, um tiro no pé.
E aí, quem se habilita a arriscar: é possível fazer teatro?
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Virei-me já numa boa quantidade de personagens. (garçon, malandro roceiro e urbano, professor aloprado, sábio alemão, revolucionário, hipocondríaco, anjo, drogado, dom quixote, par romântico, centurião, estrangeiro explorador, empresário, arauto, empregado, diabo, sequestrador, jagunço, velho quando eu era novo, orixá, coronel, e mais) Virei-me tb em coisas como um pepino, uma cor, um sentimento. Fui também narrador de mim mesmo e de quem eu nunca soube direito. Fiz vozes e sombras. Ruídos também. Inventei firulas pra outros, modos de ser, luzes, deslocamentos, roupagens, fumaças cenográficas, artefatos de vária serventia, imitações. Vi e escrevi. Conversei ensinamentos. Tentei ser importante. Tentei ser simples. Me meti em políticas, cacei brigas, conciliei. Plantei projetos. Ganhei uns cobres, criei filhos. Continuo fazendo essas coisas todas e quando penso nelas é como vc diz, ufa! Mas olho em frente e ainda me divirto. Não invejo burocracias. Diz o MCA que fazemos teatro pra conquistar as garotas. Pode ser. É possível mesmo fazer teatro se conquistamos as garotas.
ResponderExcluirPaz e bom humor, mano rato.
É que eu vejo planilhas, justificativas, concorrências públicas. Meu personagem é um só e ele usa óculos! O produtor de cinema americano metido num pornô amador (sem camisinha). Mas MCA que está certo: uns beijos na 'boca dela' pra fazer a vida bela! Grande abraço, Mestre Splinter. Você conhece o mestre Splinter, Walmir?
ResponderExcluirGosto desses reencontros com anotações antigas, sonhos de montagens, eu sempre me deparo com elas, mas muitas vezes quando elas se concretizam, já vão longe de tudo que foi a primeira idéia.
ResponderExcluirEu ando pensando demais nisso que você fala aqui, de como saímos de um processo de criação, vez ou outra saiu assim também, me sentindo menos criativa, mas quando olho, já estou alimentando outros quereres, outras criações começam a brotar em mim e quando vejo, já estou completamente envolvida pela necessidade de criar. Acho que a verdade é que o fim em si (se é que podemos chamar assim) de um processo, nada tem haver com nossa necessidade de criar, porque essa não tem fim, ela muda de objetos, muda de lugares, mas não se muda da gente, isso não tem fim. Por isso é impossível para nós não fazer teatro.
Beijos.
É... pergunta difícil. Ainda estou no que se pode chamar de "País das maravilhas". Tudo numa lógica paticular. E se as rosas são bancas? Pinto-as de vermelho. Cuspi para o alto, e se ele voltar... um lenço!
ResponderExcluirAbraços!!!