terça-feira, 13 de setembro de 2011

10 ANOS DO GRUPO RESIDÊNCIA



Pois bem, é isso: há dez anos eu chamava o Hazen, um trompetista, pra tocar piano numa montagem que eu queria fazer pro MoMu, festival de monólogos e música original da UFOP. Eu tinha um personagem que havia contruído fazendo intervenções cênicas num shopping center, em Salvador - isso depois de viver um mineirinho sem graça, com o qual ganhava pão de queijo de graça e o indefectível super-agulha, o super-herói mais imbecil da face da terra e demais planetas. Estreamos com uma versão de 10 minutos e depois aumentamos a montagem em meia hora. Convidei o Foca, Leonááárdo pros íntimos, pra produzir a gente e inscrevi Os Cadernos no Festival de Curitiba. No ato da inscrição on line, tinha uma lacuna onde estava escrito 'contato' e outra 'endereço'. Aquilo me confundiu. Eu preenchi no contato 'Residência' e embaixo o endereço de minha residência. O festival de curitiba respondeu: "Residência: recebemos sua inscrição..." Pois bem, estava batizado o grupo que queria nascer Núcleo de Pesquisas em Artes Cênicas da UFOP, mas graças a deus não deu. 10 anos depois o Foca vai a uma festa de aniversário da avó da Marisa, sua esposa, e encontra a Nadja, que tinha ido para o aniversário da avó de seu namorado, o Henrique. Ele fala: Eu fui do Residência. Ela: e eu sou!!! O ciclo se fecha, mas tudo também recomeça. Uma espécie de mesmo ponto só que mais à frente. Os desafios são os mesmos, um pouco mais a frente porque agora tenho mais barriga! Mas o tempo é forte, embora pareça sutil. De cá tenho a consciência de causa: foi aí que dei meu sangue, injetei bílis no peito, fui poeta (brinquei de rilke, pessoa, fui russo, boneco, doente, compus, me indispus, viajei). São 10 anos de muita entrega, mas também de muitas conquistas, na mesma proporção, aliás. Aí me falam: você devia ter saído de ouro preto. Talvez devia mesmo, mas talvez fizesse as mesmas coisas em outro lugar, porque o que faz a gente é a necessidade (como a ocasião o ladrão). Projetei na pedra, fui palhacinho de festa, apanhei de crianças num trem. Fui humilhado por um adolescente com aparelho - que graça que tem isso? - reinventei-me: eu fui o outro. Eis a delícia do teatro (e a dor): estar condenado a uma tangente de si constante. Não ganhei dinheiro, tenho dívidas com o banco do brasil e ainda não consegui comprar a cota do clube. Mas eis uma coisa que construí, com parceiros constantes como Foca, Geuder, Flaviano, Didito, Biê, Daniel, Frederico, Guina, Hazen, Xibil e agora Nadiana, Renato, Ellen, Nadja: um grupo, um pedaço da história de cada um nós (e com o perdão do egoísmo, da minha especialmente, porque misturei o residência e a minha residência, minha história e o meu devir, meu desejo e minha obrigação). Sao dez anos de muita coisa. A maioria delas simples demais.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O TRIUNFO EUCARÍSTICO



Ouro Preto é uma cidade muito louca, disso todo mundo sabe. Permitam-me um certo bairrismo. Por ser uma cidade que vive do passado, parece que sempre somos piores do que a galera de 200, 300 anos atrás. Uma sombra difusa. Taí a grande importância de um evento como o Triunfo. É muita gente que produz cultura todo dia. Contemporaneamente. Muita coisa diferente, um caos! Todo mundo junto, rompendo os hímens de nossa incompetência pro real diálogo com o que é diferente. E uma festa, cheia de coisas que dão errado, de gente que esquece a hora de fazer alguma coisa, e de beleza, inclusive por isso. O Brasil é um país que tende à antropofagia mesmo. Era assim quando o Padre Anchieta colocou um cocar na auréola de Nossa Senhora. Será assim quando nossos homens do futuro dançarem maculelê. Somos esse povo fragmentado que o cortejo mostrou. Nesse momento, quando vejo todo aquele pessoal junto, pessoas que ou não se conhecem ou não se suportam ou ambos, todos no mesmo evento, uma profusão de alegria, de orgulho, aí eu também tenho orgulho dessa terra (eu disse que seria ufanista, não disse?). Acaba e somos os mesmos, com nossas mesquinharias, pequenos traumas, egoismozinhos babacas. Mas, como já dissemos noutro lugar, pra se romper qualquer coisa precisa-se da fresta. Quando cheguei à Igreja do Rosário e vi o congado de Miguel Burnier descendo a ladeira, eu chorei. Porque as frestas tem seu risco. Agradeço e termino, que quando se abre um buraquinho de rato numa parede de pedra, descobrimos duas coisas: um novo mundo e uma nova parede. Cavuquemos!!!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

JAIR BOLSONARO OU PORQUE É MAIS FÁCIL LIDAR COM O NAZISMO QUE COM A HIPOCRISIA





O Jair Bolsotário prestou um grande serviço pra discussão sobre o racismo e a homofobia nesse país. Ele é um imbecil. Mas confesso que prefiro ele à maioria hipócrita de nossos fazedores de lei; ele permite que a discussão fique mais clara, portanto, objetiva. Ele apressa as mudanças. Ele não quer ver o filho casado com uma negra? Boa parte de nossA classe média também não quer. Ele acha que homossexualismo é promiscuidade? Que se 'cura' trancando o filho num quarto e descendo-lhe de porrada? Um monte de gente pensa assim. Digo, quanto mais Bolsonaros, melhor. Repito: ele foi eleito, milhares de pessoas fazem-se representar nele. A maioria, covarde. Sou contra sua cassação. Quanto mais ele falar, melhor. Seu discurso servirá de parâmetro pra quem concorda e pra quem discorda. Precisamos da arte, como potencial transformador da cultura (ou alguém acha que só porque é cultura é bom?). Precisamos da educação ampliada, humanista, holística, pra desaprender o ódio em nossos filhos. Isso tudo, acho, depende do conflito. Claro, objetivo, escancarado. É preciso que nosso nazismo brasileiro se mostre, claro, objetivo, escancarado, examente pra que se possa combatê-lo. Senão vira uma guerra onde todo mundo é bom. Ou todo mundo é mau. Obrigado, Bolsotário! Parabéns ao CQC!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

TRANSFORMANDO COMENTÁRIOS EM POSTAGEM

Estava relendo as postagens deste blog e resolvi converter os comentários de um dos posts -

REFLEXÃO SOBRE OS MEIOS DE PRODUÇÃO DE TEATRO -

em um post. Quem quiser conferir o post de origem, só cliclar aqui no título, que é automaticamente remetido pra lá!

4 comentários:


Walmir disse...
Virei-me já numa boa quantidade de personagens. (garçon, malandro roceiro e urbano, professor aloprado, sábio alemão, revolucionário, hipocondríaco, anjo, drogado, dom quixote, par romântico, centurião, estrangeiro explorador, empresário, arauto, empregado, diabo, sequestrador, jagunço, velho quando eu era novo, orixá, coronel, e mais) Virei-me tb em coisas como um pepino, uma cor, um sentimento. Fui também narrador de mim mesmo e de quem eu nunca soube direito. Fiz vozes e sombras. Ruídos também. Inventei firulas pra outros, modos de ser, luzes, deslocamentos, roupagens, fumaças cenográficas, artefatos de vária serventia, imitações. Vi e escrevi. Conversei ensinamentos. Tentei ser importante. Tentei ser simples. Me meti em políticas, cacei brigas, conciliei. Plantei projetos. Ganhei uns cobres, criei filhos. Continuo fazendo essas coisas todas e quando penso nelas é como vc diz, ufa! Mas olho em frente e ainda me divirto. Não invejo burocracias. Diz o MCA que fazemos teatro pra conquistar as garotas. Pode ser. É possível mesmo fazer teatro se conquistamos as garotas. Paz e bom humor, mano rato.
aparatOZerosete disse...
É que eu vejo planilhas, justificativas, concorrências públicas. Meu personagem é um só e ele usa óculos! O produtor de cinema americano metido num pornô amador (sem camisinha). Mas MCA que está certo: uns beijos na 'boca dela' pra fazer a vida bela! Grande abraço, Mestre Splinter. Você conhece o mestre Splinter, Walmir?
Adélia Carvalho disse...
Gosto desses reencontros com anotações antigas, sonhos de montagens, eu sempre me deparo com elas, mas muitas vezes quando elas se concretizam, já vão longe de tudo que foi a primeira idéia. Eu ando pensando demais nisso que você fala aqui, de como saímos de um processo de criação, vez ou outra saiu assim também, me sentindo menos criativa, mas quando olho, já estou alimentando outros quereres, outras criações começam a brotar em mim e quando vejo, já estou completamente envolvida pela necessidade de criar. Acho que a verdade é que o fim em si (se é que podemos chamar assim) de um processo, nada tem haver com nossa necessidade de criar, porque essa não tem fim, ela muda de objetos, muda de lugares, mas não se muda da gente, isso não tem fim. Por isso é impossível para nós não fazer teatro. Beijos.
Renato Ribeiro disse...
É... pergunta difícil. Ainda estou no que se pode chamar de "País das maravilhas". Tudo numa lógica paticular. E se as rosas são bancas? Pinto-as de vermelho. Cuspi para o alto, e se ele voltar... um lenço! Abraços!!!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

GALANGA! FOREVER

O Galanga! é uma banda de rock afrogressivo formada em 2001 no porão da Castelo dos Nobres, tradicional república estudantil de Ouro Preto. Agora, depois de uma breve pausa pra esquentar tamborins, está de volta ao cenário independente, reinventando-se. O primeiro show desta nova fase já tem data e casa: abaixo, detalhes completos. Paragundum pé de moleque tum!