sexta-feira, 30 de julho de 2010

O FESTIVAL DE INVERNO É DO POVO!

Photo: Naty Torres


Acabou o Festival de Inverno. Mais uma vez tenho a impressão de que o evento ainda não se reencontrou, que após o final da década de 90, quando a UFMG deixou de realizar o evento, o festival ainda fica tentando fórmulas já desgastadas pelo tempo. A primeira reflexão é que há muitos anos o festival deixou de ser um evento focado. Há 15 anos sua principal finalidade era a formação e artistas vinham pra Ouro Preto pra se reciclar, fazer oficinas de ponta, trocar informações e propostas com artistas do mundo inteiro. Hoje a profusão de eventos em julho fez com que a maioria dos profissionais esteja trabalhando e que a maioria do público seja de pessoas que estão de férias e desejam praticar o turismo. Se, em parte, a coordenação do festival percebeu isto porque investe enorme vulto de seu orçamento em grandes shows, por outro lado parece querer reeditar festivais de outrora, investindo num grande número de eventos que ecoam na parede. (Eu mesmo, saibam, realizei um evento de parede no festival passado. Que estava descrito na programação. Mas que, além de ter sofrido um atraso de mais de 3 horas pra montagem do equipamento, foi visto pela meia dúzia de gatos pingados do ditado. Era, literalmente, um evento de parede - projeções em uma fachada do centro histórico de Ouro Preto, o PixelAção - mas não precisava ser litral ao extremo!) O festival é mais um componente do mercado de trabalho para grupos profissionais do Brasil do que um fórum de discussões, como seu sobrenome sugere. O festival é entretenimento para pessoas de férias. Sem diminuir a noção de entretenimento. É entretenimento de alto nível. O festival é um evento para alimentar o mercado turístico da cidade: quanto mais espectadores melhor. Quanto mais bons espectadores, melhor (bons espectadores leia-se bom turista, aquele que fica na cidade, consome nos melhores restaurantes, dorme nos melhores hotéis).
O festival oferece oficinas de qualificação interessantes, mas não seleciona os alunos, o que gera turmas desiguais e portanto afasta pessoas que pretenderiam se reciclar. A vaga na oficina é de quem pagar primeiro.
Este ano, pelo menos, não vi nenhum panfleto daqueles que publicaram alguns anos atrás, um informativo dos 'principais eventos' do festival, deixando todos os outros numa espécie de limbo de sub importância.
Numa das noites do festival fui ao show do Gabriel, o Pensador. Exatamente porque estava lotado, exatamente porque foi um evento em que a população de Ouro Preto compareceu em massa, que percebi que ali estava um chave para este festival dos novos tempos. O Gabriel é um cara que faz a ponte do popular e do engajado (ele canta desde temas sociais até a hora de molhar o biscoito!). Acho que este festival é, e deveria ser, sem vergonha, um evento popular. Há alguns anos, talvez o último festival da UFMG em Ouro Preto, fizeram concomitantemente o festival de inverno e o festival da prefeitura. O primeiro foi concentrado na praça da UFOP e no centro de Artes e Convenções e em eventos ditos mais cultos - ou mais focados, para um usar um termo caro a nosso texto. O segundo concentrou-se no teatro municipal de ouro preto e na praça tirandentes e trouxe shows populares e baratos e comédias de fácil digestão de Belo Horizonte. O primeiro teve um público apenas razoável, mas atraiu um certo número de intelectuais e formadores de opinião. O segundo foi um sucesso de público, embora tenha sido acusado de um certo mau gosto. Acabados, nenhum ecoou. A diferença entre eles, no entanto, marca uma necessidade que, acho, deve ser amplamente refletida pelos coordenadores do festival: ambos definiram muito claramente seu público. Isto era refletido na divulgação e nas atrações escolhidas.
O festival de hoje opta pela escolha de um tema, um personagem. Parece-me, no entanto, que este tema surtiu algum efeito no sentido de funcionar com um critério para a montagem da grade de programação apenas na edição de Chico Rei, onde podia sentir-se reverberar a cultura negra e questões relativas a ela durante todo o evento. Este ano a proposta do Mestre Ataíde foi insossa. Assim como o Clube da Esquina do ano passado. Esta cultura passadista de Ouro Preto (que causa uma inflamação típica nas glândulas linfáticas chamada ouropretite!) faz com que a gente fique se prendendo a coisas que foram inventadas há menos de cinco anos e que já se configuram como tradição! Vamos mudar, gente! Vamos dar fluidez à tradição. Ela também se adapta! Ela também respira. A tradição não é uma pedra de mármore.
Em suma, terminamos como começamos: o festival é do povo. Menos eventos pra cumprir tabela, mais diálogo, mais inclusão, menos empáfia! Ao povo o que é de César!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Rato do Subsolo: escárnio e complacência na contradição humana

Photo: Naty Torres

Rato do subsolo ou o ódio impotente, peça produzida em 2009 pelo Grupo Residência – Teatro e Audiovisual de Ouro Preto, foi apresentada na noite do dia 11 de julho no Teatro Sesi de Mariana. A produção embebeda-se na obra de Dostoievski, Memórias do Subsolo, e é carregada pela luxúria, pelo ódio e pelo peso das identidades que se configuram como a impotência na busca de algo que ultrapasse as frustrações e o ridículo do humano.

Os quatro “ratos” – trata-se de homens – reunem-se na república para o dia em que buscariam a dignidade. Esta busca, após diálogos cortantes de escárnio e complacência, surpreende a platéia quando é anunciada como o dia em que os ratos cometeriam suicídio.

A peça parece debochar do ser humano, mera existência acuada nos subsolos da mente e da sociedade. Tudo é desconstruído e reduzido ao medo e à impotência do homem diante à existência que não se escolhe ou comanda, mas é ilusão e morte.

Com a angustiante falência de todas as crenças, os ratos que habitam o subsolo mostram o retrato impiedoso da essência humana, em sua patética busca pelo prazer, pelo amor e pela felicidade.

Palco de rancores e deboche ante a sociedade que estereotipa, intimida e paradoxalmente seduz, a peça nos escancara o espelho do que somos dentro de nossas fobias e de nossa solidão.


Gracy Laport

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Outro espaço para reflexões e críticas



Mais um espaço para botar o teclado no trombone: solte a língua que nós mordemos!