quarta-feira, 14 de julho de 2010

Rato do Subsolo: escárnio e complacência na contradição humana

Photo: Naty Torres

Rato do subsolo ou o ódio impotente, peça produzida em 2009 pelo Grupo Residência – Teatro e Audiovisual de Ouro Preto, foi apresentada na noite do dia 11 de julho no Teatro Sesi de Mariana. A produção embebeda-se na obra de Dostoievski, Memórias do Subsolo, e é carregada pela luxúria, pelo ódio e pelo peso das identidades que se configuram como a impotência na busca de algo que ultrapasse as frustrações e o ridículo do humano.

Os quatro “ratos” – trata-se de homens – reunem-se na república para o dia em que buscariam a dignidade. Esta busca, após diálogos cortantes de escárnio e complacência, surpreende a platéia quando é anunciada como o dia em que os ratos cometeriam suicídio.

A peça parece debochar do ser humano, mera existência acuada nos subsolos da mente e da sociedade. Tudo é desconstruído e reduzido ao medo e à impotência do homem diante à existência que não se escolhe ou comanda, mas é ilusão e morte.

Com a angustiante falência de todas as crenças, os ratos que habitam o subsolo mostram o retrato impiedoso da essência humana, em sua patética busca pelo prazer, pelo amor e pela felicidade.

Palco de rancores e deboche ante a sociedade que estereotipa, intimida e paradoxalmente seduz, a peça nos escancara o espelho do que somos dentro de nossas fobias e de nossa solidão.


Gracy Laport

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