sexta-feira, 24 de julho de 2009

RATO DO SUBSOLO OU O ÓDIO IMPOTENTE DOS CONTEMPORÂNEOS

Joka Madruga

Rato do Subsolo é uma pesquisa realista. Porque o realismo é um gênero que se julga limitado, caquético, moribundo no teatro? Quais são as pesquisas realistas relevantes neste momento nas artes cênicas brasileiras? Num encontro recente com amigos que desenvolvem pesquisas sobre o velho teatro contemporâneo - ou alguém duvida que arte contemporânea já não seja uma velhinha de óculos escuros? - percebi que este vai ser o principal parâmetro crítico de nosso espetáculo, como se tivéssemos tomado uma máquina do tempo rumo ao passado. Nossa opção pela pesquisa de texto, pelo desenvolvimento linear de personagem, pela relação de causa/conseqüência, pela crueza do diálogo nos leva por rios caudalosos...
Mas se por um lado os contemporâneos se inquietam, o público 'comum', considerando o preconceito desta expressão estranha, se fixa exatamente nos diálogos, no desenvolvimento de personagem e, obviamente, recebe com dificuldade as cenas de projeção, as cenas paralelas, os devaneios poéticos.
Entre a cruz e a espada nossa pesquisa segue...

6 comentários:

  1. boa pesquisa. e que elas tb se reflitam na atuação. vejo conteporaneidades umas sobre as outras e dou com a mesma base interpretativa que nem usa mais óculos escuros, mas delgados pince-nez. Procuram liberar-se da idéia de personagem e pegam-se em tipo-atuaçao que é apenas ante-câmara de atuação, aquela exata coisa combatida pelo velho Stanislavski.
    Sucesso, monstros.
    Paz e bem e bom humor também.

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  2. No século XX, a poesia perdeu a pompa... o verso livre dos modernistas e a inserção do cotidiano como tema poético abriram espaço para que o poeta se movimentasse em liberdade entre as palavras. E para os poetas da cena também. E foram muitas as experiências com essa liberdade: os concretistas aboliram o verso, o poema-processo mostrou a desnecessidade da palavra, o neoconcretismo cobrou engajamento nas questões sociais, o Tropicalismo reacendeu o diálogo entre a poesia e a música, os poetas marginais expressaram sua irreverência,... e hoje? Sabe, monstro?, o que interessa mesmo é como tocar a alma. E tocar a alma com a precisão reflexiva do velho João Cabral. olha só o poema dela, Cão sem Plumas:

    Como o rio
    aqueles homens
    são como cães sem plumas
    (um cão sem plumas
    é mais
    que um cão saqueado;
    é mais
    que um cão assassinado.
    Na paisagem do rio
    difícil é saber
    onde começa o rio;
    onde a lama
    começa do rio;
    onde a terra
    começa da lama;
    onde o homem,
    onde a pele
    começa da lama;
    onde começa o homem
    naquele homem.
    Paz e bem e bom humor também.

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  3. Mestre Walmir,

    habitualmente considera-se o que é louco, desconstruído, tendendo ao nada, preenchido de vazio, etceteras congêneres, de arte contemporânea. E o que é mais louco, mais desconstruído de arte pós-contemporânea. Mas eu acho que não. Tenho repetido a alguns amigos que o pós-contemporâneo é mais careta que o contemporâneo, porque é uma reação a esse vazio que não faz mais sentido (você me disse uma vez sobre um artista que pintava com sua bosta. Pois bem, pintar com bosta nos anos 70 devia ser uma aventura ética/estética fodida. E hoje, é?).
    Acho que num ambiente de pesquisa - me refiro a trabalhos recentes como a poesia do Espança, à desconstrução cabeça do Aqueles Dois, à poesia simples do Tropeço, da Tato Criação Cênica de Curitiba - estamos retomando coisas perdidas no baú da história, a palavra como a principal delas! Acho que isso é uma reação, é, agora sim, uma linha concorrente na linha da história, algo que talvez iremos digerir de barbas brancas e pés de molho nos anos vindouros. Mas é uma hipótese.
    Obrigado pelos posts, são belos e úteis, serão digerido em nossa pesquisa com vinho e pão! Grande abraço, bom humor vem, bom humor vai! Circula!

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  4. Uns tempos atrás - advento da era das múltiplas imagens - surgiu a frase "uma imagem vale mais do que mil palavras". Como se as imagens fossem o testemunho pleno da verdade. Era bem o tempo do ator auto-falante, que pouco atuava e paradão, com gestual cansativo, dizia um texto cheio de rebuscadas sonoridades. Aí caminhou-se para o ator feijão-mexicano, que pouco falava e quase-atleta, com voz inaudível, atuava um roteiro de rebuscadas imagens. Hoje podemos dizer que uma imagem vale mais do que mil palavras e que uma imagem também mente mais do que mil palavras. Está mesmo na hora de juntar o que foi separado e que pode expressar melhor as poesias das cena.
    Paz e bom humor, sempre.

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  5. Então: "uma imagem pode valer mais do que mil palavras".
    "uma palavra pode valer mais do que mil imagens".
    É preciso mesmo ir nas poesias e fazer estas pazes mais do que necessárias.
    Boa pesquisa, monstro.
    Paz e bem

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  6. Monstro Mestre,

    é isso mesmo, nossa pesquisa segue neste sentido. Pode ser que, querendo fazer as pazes acirremos mais a discórdia entre palavra e imagem, elementos básicos de nossa pesquisa. É uma tentativa. Em setembro, de 17 a 27, espero que você vá conferi-la no Galpão Cine Horto.
    E esqueci de dizer que é exatamente na atuação onde a pesquisa realista mais se manifesta.
    Grande abraço, bom humor e adjacências!

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